Quo vadis Portugal?

Quo vadis Portugal?

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Para quem possa estar a ler este texto e seja mais jovem, esta mensagem é para ti. Provavelmente nasceste, assim como eu, numa época onde se sentia que a religião era uma coisa do passado. Multiplicavam-se as mensagens na cultura pop a desqualificar a religião como uma doutrina bafienta, obsoleta que não se atualizava e não se adaptava à modernidade. A mensagem que ganhava mais destaque era a de que não era cool ser religioso, que as únicas pessoas que o eram seriam as pessoas fracas nas suas convicções e que tinham sido vítimas de uma forte lavagem cerebral. Tudo servia para desconstruir e diluir a presença da doutrina moral da igreja na sociedade. Entretenimento, agendas políticas, cultura, ciência, arte, informação, todos estes alicerces da sociedade ratificam a mesma tese: precisamos de nos modernizar e atualizar o nosso modus vivendi. António Gramsci é um dos exemplos de pensadores que estão por detrás desta transformação social, propondo que se faça primeiro uma revolução cultural para que seguidamente se faça a revolução política, e assim foi.

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Diácono remédios - Provedor da Herman Enciclopédia

Tudo na cultura indicava outras direções para a consagração de uma “evolução” nos costumes e na convivência entre as pessoas. Antes tudo era na aparência sangrento e eivado de restrições, agora tudo é e será liberdade e Iluminismo.

Este movimento de esvaziamento da cultura católica era justificado como sendo necessário pois imbuído do espírito revolucionário acreditava-se que tratava de repor a verdade e acabar com as restrições que a religião colocou na sociedade portuguesa, contudo teve o resultado talvez inesperado para alguns de produzir não um estado laico na sua conceção utópica mas sim um estado que professa uma religião pagã. Esta religião havia de ter também as suas restrições e dogmas além de produzir os seus próprios mitos para agregar socialmente em torno da ideologia.

O creacionismo por exemplo era coisa de outro tempo, agora havia que inventar uma cosmovisão diferente, em que o universo é rei e senhor e o milagre que está na génese da criação é o Big Bang. Nada mais que um truque retórico que nos desvia do creacionismo católico criando novos mitos cosmológicos mas não responde às questões de fundo: porquê algo em vez de nada ? Que obra existe sem criador ? Este truque retórico funciona porque quando nos apegamos às coisas do mundo, as descrições físicas e materialistas da realidade, estamos como que demasiado entretidos intelectualmente para subir de nível de análise e colocar as questões no plano metafísico. Sem essa organização psíquica que nos permita desenvolver uma interpretação metafísica da realidade objetiva estamos suscetíveis a que esse espaço deixado vago possa ser ocupado pela ideologia vigente, presa a um tempo, um espaço e manchada por um oportunismo político que procura conquistar tudo o que é nosso começando por instilar ideias de forma subtil, por vezes quase impercetível.

O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, na sua crítica ao marxismo, diz-nos que as ideias marxistas tornam-se de tal forma insidiosas que ao dominar educação e cultura fabricam cidadãos socialistas que não se apercebem que estão a fazer o apostolado ao socialismo. Os menos humildes de entre nós julgam que as ideias que possuem foram forjadas por si mesmos, no entanto, se lhes perguntarmos se conhecem a origem filosófica de determinadas ideias serão frequentemente incapazes de o identificar. Com a humildade vem o reconhecimento de que somos todos extremamente influenciáveis e de que determinadas escolas de pensamento nos podem ter capturado, usando-nos como armamento para a disseminação de determinadas ideias. Estas ideologias são como predadores famintos esperando pacientemente encontrar vulnerabilidades na sua presa para poderem explorar essas fraquezas e ganhar terreno.

A procura de uma matriz de organização da realidade, um significado fundamental, é um instinto humano, um instinto religioso, e quando não preenchido pode então ser parasitado por “religiões” muitas delas primitivas. Desengane-se quem pensa que o ateísmo, o materialismo ou o relativismo não é uma religião, nada poderia estar mais longe da verdade. Após exame consciente daquilo a que o ateísmo se propunha a fazer, libertar o ser humano dos seus preconceitos e da tirania da doutrina religiosa que se afirmava sobre os desejos hedonísticos das pessoas, percebemos que o ateísmo não só não conseguiu fazer isso porque não nos livra da culpa como deixou muito pouco de humano em nós. Numa concepção ateísta e relativista tudo é passível de ser questionado, até ao axioma mais básico levando a que categorias semânticas como “homem”, “mulher” e “ser humano” sejam agora veículos de discórdia e confusão quanto á sua definição.

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What is a Woman - Documentário de Matt Walsh que aborda as questões da identidade de género

Ainda assim, como vemos plasmado na sociedade atual há uma teoria sobre a virtude em que o que é determinado pela massa da população é o “bom” e o que é para ser seguido, mesmo quando incoerente do ponto de vista lógico ou atentatório contra a natureza humana. Nesta nova religião o subjetivismo exuberante levou a que a arte perdesse aspirações estéticas dedicando-se quase exclusivamente á afronta e ao desafio ao status quo que nada mais é que a disseminação das ideias da ideologia que vigora. No domínio da ciência, esta está cada vez mais refém da ideologia servindo os interesses da mesma. Quanto à moral, não é possível não possuir um teoria sobre de bem e sobre o mal sem um dogma, e aqui nestas novas religiões existem vários dogmas e rituais sacramentais tal como nas religiões tradicionais. Seja a glorificação do materialismo, a celebração de uma suposta “evolução” do ser humano, ou a elevação do sexo a um plano mais elevado de atenção, estes e outros dogmas fazem parte desta religião.

Assim lembremos as palavras de Ralph Waldo Emerson quando nos diz que o ser humano irá sempre venerar algo e que nos tornamos naquilo que veneramos, ou seja o que ocupa a nossa imaginação e os nossos pensamentos irá também determinar o nosso carácter. Portanto, cuidemos de escolher que objetos colocamos nos nossos “altares” e o que vamos venerar pois isso estará na base da criação da sociedade futura. Não existe a opção não ter religião, existe sim a opção de deixar na escuridão do inconsciente a principal força motivacional que está na base de um sistema perceptivo. De qualquer modo, algo tem de ocupar o lugar mais elevado na nossa hierarquia moral a questão é: o que deverá ser ?

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