Investigação da sombra

Investigação da sombra

Carl Jung fala-nos do conceito de sombra como dimensão inalienável da personalidade, uma parte da nossa identidade que contempla o nosso poder de destruição. Segundo Jung quanto menos conscientes somos desta sombra maior é o seu poder destrutivo, ou seja, mais negra e densa se torna. Se um sentimento de inferioridade se torna consciente o indivíduo terá sempre oportunidades para corrigir esse sentimento, ao passo que se permanece no inconsciente pode perpetuar a sua influência e ampliar a sua intensidade. A sombra não integrada, ou seja não consciente, condena o Homem a repetir os erros do passado e perpetrar as atrocidades que caracterizam os atos mais sombrios de tirania.

Esta influência da sombra pode ser considerada tanto a nível individual como a nível coletivo quando pensamos na sombra que existe na nossa sociedade. A sombra societal está por exemplo presente na ascensão dos regimes autoritários caracterizados pela decadência moral e extinção da individualidade através da emancipação da identidade do grupo.

Uma das dificuldades em tornar a sombra consciente é a resistência em admitir a nossa falta de virtude e altruísmo e em reconhecer as nossas próprias corrupções morais. Como forma de ultrapassar esta dificuldade e investigar as sombras com eficácia diria que a humildade deve ser usada como ferramenta. Quando nos deparamos com alguém que cometeu um crime a todos os títulos horrendo muitas vezes a maior parte de nós pensará: “eu nunca faria tal coisa”, a humildade incentiva-nos a refletir de forma mais profunda e perceber que pode não ser tão absurdo pensar que algures no nosso mundo intra-psíquico existe também a possibilidade de violar, agredir e matar. Tomemos como exemplo os alemães que viveram o período do holocausto, como será que um grupo vasto e diversificado de pessoas vindas dos mais diversos extratos sociais foi capaz de anuir a tamanha destruição ? A resposta prende-se muito provavelmente com uma ausência da integração da sombra, sendo que a maioria das pessoas não teria consciência da atrocidade na qual participava, estava apenas numa espécie de transe psicótico no qual não concebia a sombra.

Uma outra forma de investigar a sombra é através do ato de dizer a verdade, sim dizer a verdade. Pode parecer simples mas acredito que há muito sobre nós que apenas contamos a um punhado de pessoas e muito mais que apenas nós mesmos sabemos e ainda uma quantidade razoável de coisas que nem ousamos admitir a nós mesmos. Nessa medida, dizer a verdade pode elucidar-nos sobre as dimensões que não conhecemos e integrá-las no todo consciente. Esta integração requer negociações e eventualmente uma reavaliação dos nossos valores, no entanto, é uma fonte importante de renovação e criação de autenticidade e integridade.

Jung incentiva-nos a investigar a sombra para que esta não nos domine e se expresse de forma descontrolada e inconsciente. Como uma energia que existe de forma espontânea, a sombra precisa de ser controlada, interpretada e integrada para que possamos deixar de fragmentar e dissociar a nossa personalidade encarando-a como parte de um todo.

Jung

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