O Relativismo - A semente gnóstica e a destruição do valor objetivo

O Relativismo - A semente gnóstica e a destruição do valor objetivo

O pensamento modernista/progressista que predomina na sociedade actual adere de forma comprometida a uma tese filosófica que pretende redefinir a realidade, o relativismo. Segundo esta tese a realidade é definida de forma subjectiva, ou seja, está pendente das circunstâncias, pessoas, momento. e motivação. Assim a percepção é nada mais nada menos que a co-construção da realidade colocando o ser humano como uma espécie de Deus (Demiurgo), isto é como entidade criadora da realidade. Além dos problemas morais que esta hipótese levanta, há ainda problemas da ordem da racionalidade e da lógica que são incompatíveis com esta ideia. Uma ideia central que invalida fundamentalmente esta tese é a de que desta forma deixa de existir uma realidade objetiva. Neste caso cada indivíduo poderia avançar com a “sua” interpretação do real, independentemente de esta ser falsa ou verdadeira. O dogma do relativismo é a de que todos as leituras são válidas, portanto deixa de existir uma matriz unificadora, isto é deixa de existir dogma e sem dogma não há uma verdade, há apenas interpretações da realidade que estão sujeitas aos vícios e fragilidades de cada intérprete.

Se em Portugal cada pessoa tivesse a sua própria língua, a que inventou, tornar-se-ia impossível comunicar pois não teríamos as mesmas referências fonéticas, semânticas. e sintáticas. Tal como na torre de Babel não teríamos a capacidade de nos compreendermos mutuamente. É pois isto que se passa no relativismo. Nesta ideologia perdemos a narrativa agregadora que clarifica as finalidades comuns da nossa vida em sociedade, sem estas teremos cada vez mais pessoas desenraizadas com uma identidade volátil e em estado de permanente isolamento.

Talvez vivamos neste momento uma época sem precedentes neste sentido tal é a confusão que existe na definição concreta dos entes. Não me refiro apenas aos conceitos morais mas até outros conceitos como a definição de Homem e Mulher, e futuramente o próprio conceito de espécie humana, dado que, avançamos a passos largos para uma fusão entre o ser Humano e máquina com o advento. da integração da inteligência artificial no nosso próprio corpo, vide neuralink. A este respeito adverte C.S Lewis na obra a abolição do Homem: “a conquista do Homem da sua natureza desafiando os seus limites, é simultaneamente a expressão do poder exercido por alguns Homens sobre outros Homens com a natureza como instrumento”. Quando dominamos a técnica implementamos transformações fundamentais, podendo perder a noção e o limite do que é ser humano.

Tudo isto advém de uma ausência de uma matriz que nos dê objetividade de valor e finalidade concreta para a existência. Como objeto da análise coloco as seguintes perguntas: se tudo evolui como podemos definir qualquer tipo de finalidade ? Isto significa, se o ser humano está em permanente transformação assim como as suas circunstâncias aquilo que hoje é verdade, amanhã pode não ser. Colocaria também uma outra pergunta, o que é mais importante guardar e fixar na eternidade para que não esteja sujeito a este relativismo ?

Parece evidente que o relativismo culmina na auto-destruição, por ser precisamente ilógico e irracional. Infelizmente, e muitas vezes de forma inconsciente, acabamos por dar alento a esta tese quando nos vemos incapazes de sustentar a nossa vida numa matriz que estabelece os princpíos lógicos e operativos para uma perceção da realidade mais clara, mais próxima da verdade. C.S Lewis diz-nos que o facto de determinadas pessoas não verem cores não invalida que estas existam, portanto compete-nos afinar o nosso aparelho percetivo para que sejamos capazes de ver cores e procurar a matriz através da qual podemos encontrar a verdade sobre a realidade.