Polarização

Polarização

Uma nova máxima nas tecnologias/bigtech, se o serviço é gratuito, tu és o produto. Se as pessoas são o produto, quanto mais tempo estiverem online, mais lucro terão as empresas.

Isto é especialmente visível nas redes sociais ( onde também incluo o youtube) e serviços com conteúdos online, que criaram sistema de AI que maximizam os lucros e na qual estão a criar uma sociedade viciada. Criando um efeito perverso, quanto mais viciados estão as pessoas, mais lucrativa se torna para os seus proprietários.

Há muitos anos que falo disso, poucos acreditavam, alguns me acham chalupa, mas eu continuo com a minha ideia sólida. É curioso que a sociedade na sua generalidade já começa a perceber o problema do vício das redes sociais, mas são poucos os que percebem que a origem do problema é a AI.

Existe um documentário na Netflix que explora este assunto, é de 2020, nestes 3 anos a AI desenvolveu-se monstruosamente. O documentário chama-se “O Dilema das Redes Sociais” e aproveito para transcrever a descrição que faz um resumo básico: 

“Este documentário dramatizado explora o perigoso impacto das redes sociais nas pessoas, com especialistas em tecnologia a soarem o alarme sobre as suas próprias criações”

O problema das AI e das redes sociais vai muito mais além do vício, as AI estão a moldar o pensamento humano, desde dos adultos até às crianças, especialmente as crianças. Eu não tenho qualquer dúvida que a AI do Google conhece melhor as crianças que os próprios pais. Além de a conhecer desde muito pequenos, a AI também teve um papel fundamental na sua educação, ao sugerir notícias e vídeos. A AI assumiu o lugar dos pais, ao decidir o que aquela criança deve ou não consumir (ler, ver, ouvir).

Certo grupo de pensamento e de ideias estavam diversos nas sociedade, não tinham força. Com as redes sociais, as AI justou, deu espaço, divulgou, deu muita mais força a esses movimentos, como os terraplanistas, QAnon e muitos outros.

É notória que as sociedades estão a tornar-se mais radicais, mais polarizadas a nível político/ideais. A maioria das pessoas atribuem à pandemia este crescimento da intolerância, que por momentos chega a ser de ódio, será que foi a pandemia? É verdade que acelerou após o outro, mas será que existe causa-efeito? Na minha visão, diretamente não, o que aconteceu é que com a pandemia as pessoas consumiram exaustivamente as redes sociais, tiveram tempo para refletir assuntos que anteriormente não tinha tempo. As pessoas estavam melancólicas, introspectivas e assimilaram as informações sugeridas pelas AI, moldando o seu pensamento e viciando-os como cocaína.

Moldam o pensamento

Como o objecto da AI é manter ao máximo as pessoas ligadas e a consumir, sugerem exaustivamente produtos/ideias que as pessoas gostam, é tudo altamente personalizado, a AI sabe até ao ínfimo pormenor, o que aquele sujeito gosta. Qual o problema de seguir conteúdo que nós gostamos? Enquanto sugere uma caixa de cereais, não existe problema, o problema acontece quando a sugestões são a nível político ( no significado lato da palavra ). As AI colocam as pessoas num gueto, afunilam o seu pensamento, o echo chamber. Um pensamento saudável, é aquele que recebe as informações de várias fontes, os prós e os contras, da direita e da esquerda e a partir daí tira a sua própria conclusão.

Vou utilizar um exemplo “mais ligeiro” para facilitar a explicação, os adeptos de futebol. A AI sugere a um benfiquista essencialmente conteúdos que outros benfiquistas tiveram interesse, quais são? As que o assunto é sobre o Benfica e a que falam mal do Porto. E o oposto acontece com os portistas.

As AI privilegiam os conteúdos com mais leitura e engajamento, que são geralmente com conteúdos controversos. E quanto mais engajamento, dissemina mais esses conteúdos a outras pessoas, é uma bola de neve.

Este tipo de funcionamento limita imenso a diversidade de pensamento, radicalizando o mesmo, criando movimentos de ódio, moldando por completo o pensamento humano, com consequências devastadoras para o mundo e para a sociedade. Uma sociedade que é intolerante a um pensamento diferente do seu, quer impor o seu pensamento como doutrina, só o seu pensamento devia existir, o senhor da razão.

Radicalização

Voltando à política, as AI provocaram uma polarização da sociedade, os partidos do centro-esquerda e centro-direita estão se afastando do centro e os partidos da extrema-esquerda e de extrema-direita estão a crescer e com ideias cada vez mais radicais, mais extremistas.

Isto em termos políticos já está ser um problema e só tem tendência a crescer. Basta observar as eleições em muitos países nos últimos anos, como EUA, Brasil, Espanha, Itália e muito mais. Os resultados das eleições, estão a ser demasiadas partidas ao meios, a direita e a esquerda, muito próximo dos 50% 50%, tornando muito complexo criar um governo estável. Com os partidos dos extremos a conquistar muito eleitorado.

Agora os grandes partidos, mais ao centro, têm que coligar com partidos extremistas para criar um governo e mesmo assim, por vezes nem assim é possível criar um governo com maioria. 

Vou dar o exemplo de Portugal, mas pode ser alargado a muitos outros países, antigamente os grandes partidos, centro-esquerda e de centro-direita, o PS e o PSD respectivamente, têm visões diferentes mas partilhavam uma parte importante das suas propostas. Mesmo o governo sem maioria, o partido da oposição aprovava ( ou abastecia ) muitas propostas do governo, existia um entendimento entre os dois. Agora as propostas e os ideais dos dois partidos estão tão antagônicos, é impossível existir um consenso, a única maneira é uma coligação com os extremos. 

As pessoas estão a ficar muito radicais, intolerantes uns aos outros, querem impor as suas ideias. Para “combater o radicalismo”, está sendo criado movimentos anti-radicalismo que por sua vez, também são radicais, ou seja, pessoas que são contra os ideais da extrema-esquerda, vão votar em partido da extrema-direita e o oposto também acontece.

Não, a solução para combater a extrema-esquerda é votar num partido de centro e para combater a extrema-direita também é votar num partido de centro. A única maneira de combater os extremos é o centro, a tolerância.

Cancelamentos

A sociedade está ficando intolerante a pensamento diferente ao seu, quer impor a suas ideias, um bom exemplo é a cultura do cancelamento que está a acontecer nas redes sociais.

A cultura do cancelamento é uma corrente que incentiva as pessoas a deixarem de apoiar determinadas pessoas e empresas, independentemente de serem públicas ou não, por seus comportamentos considerados incorretos e repreensíveis. Ela tem sido bastante observada nas mídias sociais. A cultura do cancelamento se dá quando alguém percebe uma ação que considera errada nas redes sociais, registra esta falha e posta para os seguidores com críticas ao futuro cancelado. Em questão de pouco tempo, milhares de pessoas são alcançadas com as mensagens. Nem sempre o cancelamento se dá por conta de uma atitude do alvo cancelado, mas por algumas distorções cognitivas dos usuários das redes sociais. 

Na prática este movimento procura censurar e limitar os direitos de expressão, as suas consequências são similares entre movimentos e a PIDE. Isto provoca um efeito perverso, as pessoas escondem as suas opiniões, com medo das consequências. Por isso que os movimentos de extrema direita, como o Chega e o Trump, tem muito melhores resultados nas eleições que nas sondagens.

Um bom exemplo foi o caso do Miguel Milhão, o fundador da Prozis, houve uma tentativa de “cancelado” nas redes sociais, só por ter expressado a sua opinião. Estes movimentos de cancelamento, além de atacar as pessoas em causa, atacaram a sua empresa e maquiavelicamente também atacaram os terceiros/parceiros da empresa, pressionando a abandonar a empresa. Devido a essa pressão muitos influenciadores deixaram de promover os produtos da Prozis. Estes movimentos pidescos, não resolve nada, tem o único objectivo de colocar medo e calar, os alvos não mudam de opinião apenas deixam de dizer o que pensam.

No caso específico do Miguel, eu não concordo com o Miguel, mas ele tem o pleno direito de expressar a sua opinião, como nós temos o direito de expressar a nossa opinião.

Eu sou um forte defensor da frase/ideia criada pelo filósofo Herbert Spencer:

“A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro.”

É uma forma de expressar o princípio de que a liberdade de cada um deve respeitar a liberdade do outro. No entanto, isso não significa que a liberdade de alguém termina ou diminui por causa da liberdade de outro. Pelo contrário, a liberdade de cada um deve ser exercida de forma responsável e acolhedora, reconhecendo o valor da liberdade alheia.

No caso do aborto, o direito de fazer ou não, é um decisão exclusiva dos intervenientes, os que tiveram a relação sexual, é um decisão individual. Não faz sentido eu ser a favor de uma lei que impede os direitos de outros. Quem é contra o aborto, tem todo o direito de o não fazer, mas não pode impedir o direito os outros de o fazer.

Intolerância

A intolerância e o radicalismo não é algo exclusivo da direita, também existe na esquerda e em movimentos que nasceram para promover a “liberdade”, para reivindicar os direitos de liberdade. Estou a falar do LGBT, foi um movimento criado para combater a discriminação que as pessoas sofriam, só que com o passar do tempo, uma parte deste movimento  radicalizou-se, com reivindicação mais extremistas. Muitos são intolerantes a opiniões contrárias à sua, criando fortes movimentos de cancelamento de pessoas e de empresas, não conseguem compreender que as pessoas possam ter uma opinião diferente da deles.

Eu concordo com maiores das reivindicações deste movimento, mas se eu dizer que não concordo com algo, sou logo de rotulado de homofóbico ou do partido Chega. Não conseguem compreender que eu não concordo apenas numa pequena parte.

Uma coisa que eu não concordo é a linguagem neutra, acho um absurdo, chegando ao ponto de países criarem lei para obrigar os documentos oficiais com linguagem neutra.

Voltamos aos princípios da frase de Spencer, duas pessoas adultas fazem o que quer da sua vida, tem tudo o direto de casar, sendo ou não do mesmo sexo, é a liberdade individual deles, quem sou eu para impedir que eles seja feliz, não tenho o direito de o fazer.

Tudo muda quando tu queres mudar os direitos de terceiros, no caso da linguagem neutra estão a querer, que terceiros o utilizem, quase como uma obrigação, eu tenho o direito de não utilizar e também tenho o direito de não concordar.

É curioso que este movimento nasceu para defender os membros que sofriam bullying, agora são os bully. Esta comunidade não está a fazer nada para demarcar-se e combater essas atitudes, vai custar muito caro no futuro. A população em geral que concorda com o movimento vai acabar de mudar de lado, alimentando os partidos de extrema-direita. E quando esses partidos chegarem ao governo vão reverter todos os direitos que levaram décadas a conquistar, possivelemente até a criminalização da homossexualidade.

Voltando ao início, a única maneira de combater o radicalismo é ser moderado, o centro.

O espectro político

A maioria tem a ideia que o espectro político é uma linha do eixo, da esquerda para a direita. Mas está completamente errada.

A representação mais precisa é com dois eixos, com um eixo socioeconómico na horizontal e um eixo sociocultural na vertical.

Esta representação é tão complexa, que existem inúmeras versões da disposição dos partidos políticos portugueses, esta foi a melhor que eu encontrei. Este tipo de interpretação é muito difícil porque os partidos são muito dinâmicos, consoante a visão dos seus líderes e/ou se estão em coligações governamentais.

A distância entre a extrema-esquerda e a extrema-direita (no topo do quadrado) é similar à distância do centro político(centro do quadrado). Os extremos compartilham certas atitudes e métodos semelhantes como autoritários, discriminatórios, apenas têm uma visão económica diferente mas as consequências na liberdade são similares. 

Radicalização Binária

Na vida nem tudo é binário (sem conotação LGBT, em termos latos), por eu gostar do Benfica, não é obrigação de ter que odiar o Fc Porto, irrita-me esta cultura do ódio, as claques dos clubes de futebol estão cheias desses tipos de adereços. O futebol é apenas um exemplo, porque a sociedade está cheia de situações similares.

No meu caso, muitas pessoas colocam em causa o meu maximalismo do Bitcoin, porque eu não detesto e nem ofendo os shitcoiners. Essas pessoas não conseguem compreender que eu gosto de Bitcoin, quem sou eu para ofender os outros. Eu apenas reconheço o Bitcoin como uma moeda e a única que poderá corrigir a sociedade, as outras criptos são representantes do mundo actual (FIAT) em sistemas blockchain. Se as criptos (Bitcoin não é cripto) fazem igual, sem melhorias do sistema atual, porque mudar? servem apenas para algumas pessoas tirarem proveitos económicos do desconhecimento de outros.

Cada um é livre de fazer as suas escolhas, igualmente livre como eu, que escolhi o Bitcoin, outros podem escolher uma shitcoin. Mas todos têm a liberdade de escolher e de arcar com as consequências dos seus actos.

A grande maioria dos Bitcoiners maximalistas tem um passado com shitcoins, é um caminho, uma aprendizagem que na maioria das vezes leva ao maximalismo. Esse percurso, o caminhar sobre as pedras, leva ao estudo e à compreensão do ethos do Bitcoin. Existe uma diferença tremenda entre utilizar Bitcoin e compreender o Bitcoin. O compreender é muito importante, quem percebe, dificilmente deixa de usar; mas quem utiliza apenas por influência, sem compreender, mais tarde ou mais cedo, acaba por deixar.

Será que devemos afugentar as pessoas que utilizam mas não o compreendem?

Bitcoin é isto, para todos, para os que percebem e especialmente para os que não percebem. As pessoas poderão não perceber, mas sabem que é útil para a sua vida. No futuro, a maioria dos utilizadores vão utilizar sem o saber, vão utilizar serviços que na sua base tem tecnologia Bitcoin mas não está visível. E também serão mais os utilizadores de IOU do que de btc.

Será que temos o direito de ofender e desprezar alguém que não entende o ethos?

Claro que não, se as pessoas usam Bitcoin é que reconhecem valor, não entendem 100% mas percebem uma parte, senão não usavam.

É claro que temos a liberdade de criticar,  mas sempre respeitosamente,  mas mais de tudo, temos o dever de ajudar e ensinar o próximo.

Mas isto não é só contra shitcoiners, acontece o mesmo com nocoiners, não temos direito de insultar as pessoas que usam do FIAT, é a escolha deles (apesar de ser imposto pelo estado), são livres de não querer Bitcoin. 

Os nocoiners são como uma tela em branco, pronta a ser pintada; os shitcoiners já que encontraram o problema da moeda FIAT, mas escolherem a solução errada, ou seja, colocaram rabiscos na tela, agora será necessário repintar toda de branco e pintar de novo.

Um dos alvos dos maximalistas é Warren Buffett, criticam porque este não reconhecer o valor do Bitcoin. Nós temos que compreender o ponto de vista dele, ele é muito bem sucedido no mundo FIAT, não tem a necessidade de mudar, não faz sentido agora aos 92 anos começar a estudar algo totalmente diferente. É como se diz no futebol, a equipa que ganha não se mexe, ele ganha muito dinheiro e tem clientes fiéis, não faz sentido mudar ou perder tempo a estudar o Bitcoin.


Sejam menos radicais, mais tolerantes, tenham empatia com o próximo, não se esqueçam que os futuros Bitcoiners maximalistas são os atuais shitcoiners e nocoiners, mais cedo ou mais tarde, eles vão descobrir o caminho certo.